Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Muniz Sodré 46 I - Introdução Eu vou me ater aqui ao item da relação entre midiatiza- ção e jornalismo. Para mim, uma questão crucial nos estudos de midiatização é investigar como as relações de poder poderiam oferecer matéria-prima para um novo tipo de política, levando- -se em conta o depauperamento da representação parlamentar no âmbito da midiatização, que é poder sem política visível, mas certamente poder que aprofunda o controle social. Desde agora se sabe que o poder algorítmico é enorme, mas não ilimitado. Um dado relevante é que, entre 2009 e 2011, os serviços de in - teligência militar dos Estados Unidos investirammuitos milhões de dólares em modelos algorítmicos para prever distúrbios po- líticos em escala global. Não conseguiram sequer prever o fenô- meno da “primavera árabe”, que desestabilizou velhas estrutu- ras políticas e levou à derrubada de governos. Assim, diante do crescente açambarcamento da vida social por economia (finanças) e tecnologia, é pertinente espe - cular sobre se a política em sentido largo, isto é, como evento es- sencial à organização da pluralidade humana em comunidades, considerando-se a crise sistemática dos aparatos de Estado e a decomposição das formas tradicionais de representação, ainda se revela um caminho institucional aberto às sociedades civis. E junto com ela uma prática jornalística independente – entenda- -se: independência como razoável equilíbrio entre corporação econômica e posição de classe social – capaz de intervir com uma função mediadora relevante na agenda pública e com efei- tos de natureza política. Esta função é institucional, a meio cami- nho entre os aspectos políticos da sociedade civil e os aspectos organizacionais. A mediação, como já frisamos, faz o trânsito simbólico ou faz a “comunicação” da propriedade de um elemento para ou- tro, por meio de um terceiro termo, que é um meio de articular dois elementos diversos. Há, assim, um dualismo implícito na ideia de mediação, reforçado pela noção decorrente de “inter- mediação”, ou seja, pela aproximação, por meio de um terceiro, entre dois termos separados. No espaço público, esse interme- diário pode consistir em “pequenos grupos” (líderes de opinião)

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