Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização

Ilya Kiriya 84 Introdução Atualmente os meios de comunicação estão em todo lugar. A teoria da midiatização diz respeito à sua complexidade e a seu entrelaçamento com diferentes instituições sociais (HEPP; HJARVARD; LUNDBY, 2015). Essa intensificação contínua da re - lação entre mídia e vida social está mudando drasticamente o cenário midiático dos países desenvolvidos e a configuração dos modelos de negócios, bem como o equilíbrio entre produtores de conteúdo, distribuidores e plataformas. Propomos examinar esse processo em andamento do ponto de vista da economia política da comunicação, ou seja, a disciplina que lida com “a maneira como os bens comunicacionais são produzidos e dis- tribuídos de maneira desigual por toda a sociedade gerando abusos de diferentes formas de poder” (MOSCO, 2009). Do lado da economia política, a midiatização do processo social poderia ser considerada uma industrialização progressiva da cultura. Tal industrialização altera consideravelmente o equilíbrio do poder de mercado entre os diferentes atores do campo e fortalece es- pecialmente as chamadas plataformas. Em outras palavras, para nós, midiatização é a inclusão de novos setores no campo das indústrias culturais e midiáticas. Durante muito tempo, a função crucial dentro de qual- quer campo industrial da cultura era a função do chamado “edi- tor”, que articulava a função criativa com a reprodução e a dis- tribuição no mercado do bem cultural (HUET et al. , 1978). O ele - mento central desse processo era a reprodução técnica (ou seja, criar a disponibilidade emmassa da expressão cultural no espaço / tempo), a qual era o motor da comodificação dos bens culturais com base em sua circulação emmassa. A reprodução técnica era o principal elemento da teoria crítica da industrialização da cul- tura proveniente dos tempos de Benjamin (BENJAMIN, 2008) e Adorno (HORKHEIMER; ADORNO, 2002). Por algumas décadas, a noção técnica de reprodutibilidade determinou basicamente o caráter não industrial de domínios específicos da cultura, como o teatro e as artes cênicas, a educação, etc., mantendo-os fora do processo de industrialização. Todos esses domínios eram consi- derados não reprodutíveis e, consequentemente, como não sen-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz